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terça-feira, 3 de abril de 2012

Especial Semana Santa: A Palestina no Tempo de Jesus

No século I, a Palestina era um pedaço muito agitado do mundo. Durante algum tempo a Terra Santa tinha sido varrida por desavenças dinásticas, conflitos destruidores e, ocasionalmente, guerras. Durante o século II a.C., um reino judaico mais ou menos unificado foi estabelecido transitoriamente, segundo os dois livros apócrifos dos Maca­beus. Por volta de 63 a.C., contudo, a terra estava novamente em turbulência, madura para a conquista.

Mais de um quarto de século antes do nascimento de Jesus, a Palestina caiu sob o exército de Pompeu, e a lei romana foi imposta. Mas Roma, na época muito extensa e muito preocupada com seus próprios problemas, não estava em condições de instalar ali o aparelho administrativo necessário para um governo direto. Assim, ela criou uma linha de reis marionetes, a dos herodianos, para governar sob seu controle. Não eram judeus, mas árabes. O primeiro da linha foi Antipa­ter, que assumiu o trono da Palestina em 63 a.C. Com sua morte, em 37 a.C., ele foi sucedido por seu filho Herodes, o Grande, que reinou até 4 a.C.

No ano 6 d.C. a situação se tornou mais crítica. O país foi então dividido administrativamente em duas províncias, Judéia e Galiléia. Herodes Antipas tornou-se o rei desta última. Mas Judéia, a capital espiritual e secular, ficou sujeita à norma romana direta, administrada por um procurador romano baseado em Cesarea. O regime era brutal e autocrático. Ao assumir o controle direto da Judéia, mais de 2 mil rebeldes foram sumariamente crucificados. O Templo foi saqueado e destruído. Impostos pesados foram criados. A tortura passou a ser freqüentemente empregada, e muita gente cometia suicídio. Este estado de coisas não foi melhorado por Pôncio Pilatos, procurador da Judéia de 26 d.C. até 36 d.C. Em contraste com os retratos bíblicos feitos dele, os registros existentes indicam que Pilatos era um homem corrupto e cruel, que não só perpetuou, mas intensificou os abusos de seu predecessor. Pelo menos à primeira vista, é surpreendente que os Evangelhos não contenham críticas a Roma, nem menções ao peso da canga romana, sugerindo que os habitantes da Judéia eram plácidos e contentes com sua sina.

Os judeus da Terra Santa, na época, podiam ser divididos em várias seitas e subseitas. Havia, por exemplo, os saduceus, os fariseus, os essênios, e vale a pena citar os nazoritas, contudo, dos quais Sansão, séculos antes, tinha sido membro, e que ainda existiam no tempo de Jesus. E vale a pena citar também os nazoreanos ou nazarenos, um termo que parece ter sido aplicado a Jesus e seus seguidores. Realmente, a versão original grega do Novo Testamento se refere a "Jesus, o nazareno", expressão mal traduzida como "Jesus de Nazaré". Nazareno, em suma, diz respeito a uma seita, sem conexão com Nazaré.

A vida de Jesus se passou nos primeiros 35 anos, mais ou menos, de um turbilhão que se estendeu por 140 anos. O turbilhão não cessou com sua morte, mas continuou por mais um século. E gerou as expectativas psicológicas e culturais inevitáveis em tal situação de enfrentamento com um opressor. Uma destas expectativas era a esperança e espera de um Messias que libertasse seu povo do jugo romano. Foi somente em virtude de um acidente histórico e semântico que este termo veio a ser aplicado específica e exclusivamente a Jesus.

Para os contemporâneos de Jesus, nenhum Messias seria jamais considerado divino. Na realidade, a própria idéia de um Messias divino teria sido extravagante, se não impensável. A palavra grega para Messias é Christ ou Christos. O termo, em hebreu ou grego, significa simplesmente "abençoado" e se refere geralmente a um rei. Assim, quando Davi foi abençoado rei no Velho Testamento, ele se tornou explicitamente um Messias ou um Christ. E todos os reis judeus subseqüentes, da casa de Davi, eram conhecidos pelo mesmo nome. Mesmo durante a ocupação romana da Judéia, o alto sacerdote nomeado por Roma era conhecido como sacerdote Messias ou rei-sacerdote.

Todavia, para os zelotes e para outros oponentes de Roma, este sacerdote marionete era, necessariamente, um falso Messias. Para eles, o verdadeiro Messias significava algo muito diferente, o legítimo roi perdu, O descendente desconhecido da casa de Davi, que libertaria seu povo da tirania romana. Durante a vida de Jesus, a espera da vinda de tal Messias atingiu uma intensidade que beirava à histeria de massas. Esta espera continuou após a morte de Jesus. Realmente, a revolta de 66 d.C. foi instigada em grande parte pela agitação e propaganda feita pelos zelotes em nome de um Messias cujo advento seria iminente.

O termo Messias, então, não significava divino. Estritamente definido, significava simplesmente um rei abençoado; e, na mentalidade popular, veio a significar um rei abençoado que seria também um libertador. Em outras palavras, era um termo de conotação especificamente política, algo bem diferente da idéia cristã posterior de um "filho de Deus". Este termo, essencialmente mundano, foi usado para Jesus, chamado "Jesus, o Messias" ou, traduzido para o grego ­"Jesus, o Cristo". Só mais tarde é que esta designação se contraiu para "Jesus Cristo", e um título puramente funcional se distorceu em um nome próprio.

Palestina do Tempo de Jesus

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